Folha Universal

sábado, 3 de novembro de 2012


Um instante...

É o que precisa para um furacão se formar na vida de uma pessoa




A tempestade passou e tudo foi destruído. Casas arruinadas, pontes partidas, carros voaram para cima de telhados, alagamentos, enchentes, prateleiras de supermercados vazias, ruas imundas, acidentes, pânico, doenças, mortes. Essas são algumas poucas coisas que acontecem quando um furacão chega a uma cidade. É o caso do Sandy, nos Estados Unidos.
Interessante como é a mesma coisa que acontece em nossas vidas. De repente acontecem tantas coisas que nem parece a mesma vida que tínhamos dias ou até mesmo horas atrás. Por um momento a paz, em seguida o caos. Por um instante a bonança, para depois a guerra.
E então você se pergunta: “Como tudo isso pôde acontecer comigo? O que eu fiz para merecer?”
Não foram essas, necessariamente, as palavras de uma jornalista e escritora norte-americana chamada Joan Didion. Ela teve todos os motivos do mundo para se questionar, questionar Deus ou o diabo sobre tanta tragédia que aconteceu em apenas poucos dias da sua vida.
A ‘forte chuva’ começou quando a filha caiu doente, aparentemente com uma gripe forte, e precisou ser internada urgentemente em estado grave. A menina já estava havia cinco noites na UTI com quadro de pneumonia e choque séptico quando, à noite, na volta do hospital, ela e o marido se prepararam para o jantar. Enquanto ela cozinhava, ele aguardava na sala, lendo e tomando um drink. De repente, um ‘forte vento’, daqueles que anunciam uma tempestade, passa novamente por sua casa...
Ela chama pelo marido e ele não responde. Em seguida o chama de novo e o silêncio continua. Ela vai ver o que está acontecendo quando o enxerga caído e desacordado. A ambulância chega e o paramédico constata a morte dele. A tempestade desaba tão repentinamente, que toda a vida dela parece se reduzir a instantes.
 A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante.
Você se senta para jantar, e aquela vida que você conhecia acaba de repente.
A questão da autopiedade...
A vida muda num instante.
 Num instante comum (trecho do livro "O Ano do Pensamento Mágico", de Joan Didion)
E não é assim que nos sentimos quando passamos por momentos angustiantes?
Tudo acontece num instante comum. Num instante similar ao que você viveu ontem, semana passada ou mês passado. E, repentinamente, tudo muda; tudo deixa de ser o que era – para o bem ou para o mal.
Mas, apesar dos transtornos que eles nos causam, e embora um dia você acorde com um navio atracado na sua rua – tamanha foi a fúria dos furacões – ainda assim são importantes para a nossa vida, porque sem eles não há como alcançarmos a bonança; a vitória após a guerra; a derrota do imenso Golias sendo nós “apenas” um franzino Davi.
Não vou contar como termina o ensaio pessoal de Joan Didion, mas vale ressaltar que todos passamos por pequenas, médias e grandes dificuldades. E não se trata de administrar o sofrimento, mas de tirar proveito dele, precavendo-se, prevenindo-se, não somente contra os outros furacões, desertos, tempestades, ou seja lá que nome você dá para as situações difíceis que dia após dia surgem em nossas vidas, mas, principalmente, contra a falsa ilusão de que tudo está indo muito bem na nossa vida e não temos com o que nos preocupar. Porque, como disse Didion: "A vida muda num instante. Num instante comum..."
Sobre isso, a Bíblia traz um provérbio interessante:
 “Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.”Provérbios 1.32
É essa impressão de bem-estar que nos faz ficar alheios à nossa própria vida, ao sofrimento que chega sorrateiramente e ao mal que vem acompanhando a tempestade que causa tamanha destruição.

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